Primeiramente falo aqui de Cartola – Música Para os Olhos. Nada demais, apenas um documentário Globo Filmes. Ele não é daqueles documentários cheios de entrevistas, de época ou de conhecidos. É na verdade uma junção de várias coisas, imagens de filmes como Rio 40 Graus de Nelson Pereira dos Santos, ou Ganga Zumba (onde o sambista faz uma participação, junto com a amada Dona Zica) de Cacá Diegues, imagens do próprio Rio de Janeiro de antigamente que servem mais contextualizar o espectador sobre a cidade e a época em que Cartola viveu. São raras as músicas tocadas pelo próprio mestre Cartola em vídeo. É bonito, mas fraco. Falta conteúdo, como é um documentário feito para TV, possui apenas 80 minutos de rodagem. Uso aqui a frase de alguém muito especial que me disse após a sessão do documentário Botinada – A Origem do Punk no Brasil sua impressão: “Parece que ele juntou um monte de imagem de outras coisas pra fazer isso...”, e é o que eu acho sobre esse “grande” pequeno documentário. O grande só foi atingido pela expectativa que tive em vê-lo, através da propaganda feita por uma produtora de grande porte.
O próximo tive vontade de assisti-lo após o trailer, na mesma sessão em que vi Cartola. Oscar Niemayer – A Vida É um Sopro é obrigatório. Não importa se você não liga para arquitetura – como eu, se não se importa com a história e cultura brasileira, é um documentário belíssimo. Niemayer é um homem vivido. Cheio de histórias para contar, e as faz de um uma forma simples, como sua pessoa é. Um homem inteligente, símbolo da arquitetura mundial. Hoje, com quase 100 anos, retrata suas experiências de um modo descontraído, sempre dando risada, às vezes usando um palavrão, mas de um jeito que cativa os espectadores. Ok, na sessão em que fui só tinha meia dúzia de pessoas, e quase todos eram da terceira idade, mas isso não quer dizer que não cative. Frases como “Fudidos não tem vez” ou “...você nasceu, viveu, morreu e se fudeu. A vida é um sopro...” dão o exemplo que, independente da figura que ele é, Niemayer não deixa de se comportar como uma pessoa simples. Ferreira Gullar, Nelson Pereira dos Santos (de novo), José Saramago, Carlos Heitor Cony e até Eric Hobsbawn fazem depoimentos marcantes, dos momentos em que suas vidas cruzarem com a do arquiteto. Imagens belíssimas captadas através das câmeras nos fazem ver e perceber a magnitude das obras do Niemayer; como, quando e porque elas foram construídas, assim como suas curvas. Sua memória falha com relação à políticos, seu medo de voar de helicóptero, suas longas viagens diárias até Brasília, suas construções na Argélia, são exemplo de alguém que está “casando de falar sobre arquitetura”. Ele, tudo bem. Mas a gente tem mais é que assistir com atenção e ouvir cada detalhe que esse grandioso homem nos fala.
Agora, como dizer em algumas palavras, o que alguém que fora tão letrado e com a sua poesia fez mudanças no Brasil, na música e no modo de viver neste país? Pois é, Vinícius é assim: profundo, despretensioso, amigo e grande, grande poeta. "Quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores?" Viver de música não fácil, isso todo mundo sabe. Mas e se você não precisa de dinheiro, é alguém da chamada “elite”, trabalha como diplomata e se mete em bares com os amigos para cantar e tocar aquela música que você compôs? Pois é, para Vinícius de Moraes era mais difícil viver com o preconceito da sociedade com relação à sua figura, do que ser ele mesmo, alguém sensível que se embebedava facilmente para se desinibir, falar mais com as pessoas, “ter mais amigos” segundo Toquinho, e ser então, feliz. Vinícius era alguém que se enquadrava na contra-cutlura brasileira. Fazendo a chamada “Bossa Nova” que muitos repudiavam, e “demoraram para engolir” segundo Chico Buarque, não pegava bem ver alguém da alta sociedade cantar por aí com um copo na mão. Mas Vinícius fez o que ele sabia fazer, ser um artista. E Vinícius foi Vinícius. Grande músico, compositor, autor de Chega de Saudade de João Gilberto, trilha sonora do Orfeu Negro de Marcel Camus, que premiado com a Palma de Ouro em Cannes, mostrou Vinícius ao mundo. Histórias emocionantes de Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Miúcha, entre outros grandes nomes da MPB, fazem reconhecer a leveza da história do “homem branco mais negro do Brasil”, alguém de outro mundo, com uma facilidade para ser artista, que veio para não ser esquecido. O documentário não se tornou essencial sobre a vida do sambista, ele deixa um pouco aberto a relação de sua obra com o mundo. Mas é bem feito, o que por esse ponto, podemos ver e interpretarmos da maneira que quisermos, sem muita frescura e dizer no final frases como “então ele era assim e assado?”, não. Mulherengo, sim, poetinha, discordo. Ele é um mito, que em duas horas de programa, são apresentados poemas que na interpretação fraca de Camila Morgado e Ricardo Blat, me fazem questionar se foram chamados para fazer isso por serem “bons” ou por apenas estarem na “moda” do Quem Indica. As músicas estão otimamente interpretadas.